Descrição
Inspirado pelo texto “Vênus em dois atos” da pensadora negra estadunidense Saidiya Hartman, neste ensaio (po)ético busco explorar, em um movimento inacabado e provisório, em pleno diálogo com a autora, questões centrais relativas à saúde coletiva, enquanto um campo político-prático e teórico, e sua relação com a racialidade, denunciando como a atuação deste é profundamente marcado pela perpetuação da violência racial e nutrido por uma lógica epistemológica de poder colonial. Ao fazê-lo, estabeleço um diálogo com a filósofa negra brasileira Denise Ferreira da Silva e sua proposição de quebra com a sequencialidade temporal para ler os eventos raciais, buscando denunciar que este acontece não no tempo, mas nas estruturas ontoepistemológicas que suportam as estruturas jurídicas do mundo como conhecemos, ou seja, compreendendo que a violência racial é reiterada e perpetuada no campo da saúde coletiva através das bases ontoepistemológicas que suportam suas arquiteturas jurídicas, teórico-metodológicas e ético-políticas, intrincadas entre si. Em um segundo momento, aliado com as autoras e autores negras que cunham uma perspectiva radical que nutre este texto e minha perspectiva acerca da atual cartografia política global e, inseparavelmente, do campo da saúde coletiva, realizo uma proposição para busquemos vislumbrar, ensejar, provocar, tensionar e produzir possibilidades para pensar e praticar a demolição deste complexo colonial racista e cis-hetero-patriarcal sob o qual está e que é o campo da saúde como o conhecemos.