
Como foi a semana na companhia da filósofa e artista Denise Ferreira da Silva
Por Camila Montagner
Em outubro de 2024, a filósofa, professora e artista visual Denise Ferreira da Silva participou de atividades do projeto Cosmopolíticas do Cuidado no Fim do Mundo, do Coletive de Pesquisa em Antropologia, Arte e Saúde Pública da FSP-USP (CPaS-1), em parceria com o Coletivo Negro Carolina Maria de Jesus. Autora dos livros Homo Modernus e A dívida impagável, entre outras publicações, ela veio para a FSP-USP como professora visitante a convite do projeto Cosmopolíticas, participou de reuniões dentro e fora da instituição e de discussões abertas ao público.
Na edição de 2024 do Outubro Negro, ela foi homenageada e inspirou o tema do evento: “Lentes Negras para construir o mundo que queremos”. Entre as atividades que compuseram a programação, que começou no dia 8 e terminou na quinta-feira (24/10), a mesa que contou com a presença dela e do coletivo Periferia Segue Sangrando foi a que encerrou esse ciclo.
A Gira, coletiva de estudo-intervenção antirracista e anticolonial, participou de atividades do Outubro Negro e também compareceu nos outros eventos em que Ferreira da Silva esteve naquela semana. A roda de apresentação das pesquisas que compõem o Cosmopolíticas do Cuidado e a visita ao Bloco do Beco, na zona sul de São Paulo, foram os primeiros encontros de um trabalho conjunto que só estava começando.
Para Beatriz Oliveira, pesquisadora do Cosmopolíticas e integrante do Coletivo Negro Carolina Maria de Jesus, foi especialmente frutífero entender e poder repensar ações coletivas a partir do conceito de autodefesa, algo que ela destaca como umas das consequências desse encontro.
Denise sugere que, frente à ausência de um Estado que negligencia suas responsabilidades, as comunidades podem — e devem — se reorganizar, resgatando práticas de solidariedade e cuidado que historicamente existiram, mantendo um horizonte de responsabilização ao Estado pelos efeitos de suas políticas. Sua fala nos provoca a reflexão do papel do Coletivo Negro Carolina Maria de Jesus, especialmente em espaços institucionais como a Faculdade de Saúde Pública, onde questões estruturais de desigualdade social e racial estão no cerne das discussões.
Beatriz Oliveira

No dia 23 de outubro, o filme Serpent Rain (2016) foi exibido no Centro MariAntonia. Fruto de uma colaboração de Ferreira da Silva com o diretor Arjuna Neuman, o filme esteve em exibição nos festivais de cinema Doclisboa International, em 2017; e Images, em 2019; e Zinebi, em 2022. Na sequência da exibição, teve início a conversa e as intervenções artísticas com Naiá Curumim, Pitôcs (Larissa Cunha), Larissa Ye’Padiho M. Duarte e Helena Silvestre.
A escritora e trancista Naiá Curumim e Pitôcs, que é produtore de animações em stop motion, faz direção de arte, edita, costura e trabalha com arte-educação, marcaram presença na última edição do sarau Baphorau, também organizado pelo CPaS-1, entre outras colaborações. A escritora Helena Silvestre, que também coedita a revista Amazonas no Brasil e trabalha como educadora popular, participou do 1º Seminário Cosmopolíticas do Cuidado no Fim do Mundo, do projeto do coletive. Larissa Ye’Padiho M. Duarte é artesã e estudante do curso de artes visuais na Unicamp, especialista em cerâmica tukano, cuias e confecção de artefatos.
Com artefatos, filmes, música e poesia a postos para compor a discussão, a mediação desse encontro ficou por conta dos pesquisadories do Cosmopolíticas Michel Furquim e Danielle Ichikura. Furquim considera que foi uma experiência marcante conhecer Ferreira da Silva e estar ao lado de companhias com quem parcerias já vinham sendo construídas desde o Baphorau.

Uma das ideias que Serpent Rain provocou em mim e que Denise comentou durante a semana em outras atividades foi sobre o tempo. A forma de compreender o tempo, a possibilidade de analisar alguns acontecimentos e fenômenos que não pela temporalidade linear (cunhada e disseminada pela colonialidade) foi uma das coisas que mais me instigou.
Michel Furquim
No dia 24, foi a vez da professora e mestranda Alessandra Tavares, acompanhada da também professora da rede pública estadual de São Paulo e também mestranda, Luana de Oliveira, ambas do Coletivo Periferia Segue Sangrando, comporem a mesa de discussão na FSP-USP, mediada por Letícia Silva, pesquisadora do Cosmopolíticas. O encontro foi transmitido ao vivo e sua gravação segue disponível para ser assistida no canal do Coletivo Negro Carolina Maria de Jesus, conforme pode ser conferido abaixo.
A mesa foi transmitida ao vivo e a gravação está disponível no canal do Coletivo Negro da FSP/USP
Para José Farias dos Santos Junior, pesquisador do Cosmopolíticas, a semana passada na companhia da professora que ocupa a cátedra Samuel Rudin para professores na área de humanas no Departamento de Espanhol e Português da New York University foi uma oportunidade de se ver implicado num processo com a luz negra. Essa sequência de reuniões e eventos abertos ficou marcada como um início, para que a partir disso se tornasse possível continuar “seguindo com a luz negra, desvelando as bases ontológicas e epistemológicas modernas que constituem a Saúde Coletiva e buscando formas, verdadeiramente coletivas, de dissolvê-las e de construir novas inteligibilidades antirracistas, anticoloniais e anticisheteropatriarcado”, conta ele.
